sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma Educação para a Felicidade

Creio que a educação é a única forma que o ser humano tem para desenvolver sua capacidade de ser feliz. Por isso, em todos os seus níveis, a educação deveria capacitar o indivíduo para a felicidade.
Infelizmente não é isso que vemos hoje. Tanto na escola como na família a educação tem sido conduzida no sentido do indivíduo conquistar um determinado status profissional, social e financeiro que não necessariamente representa a sua felicidade.
De diversas formas, desde pequeno, são incutidos valores e crenças na vida do indivíduo que ao invés de capacitá-lo para ser feliz o torna, na verdade, mais e mais insatisfeito.
Num sistema social onde o poder econômico e político está interessado mais em ter um ser humano facilmente manipulável do que consciente e lúcido, cabe a educação, e mais especificamente à educação escolar, procurar caminhos para formar um indivíduo com uma mente livre, capaz de conduzir sua vida com sabedoria e habilidade de manifestar felicidade para si e para o seu meio.
Podemos achar que a felicidade não tem uma receita única, que ela é relativa às características de cada indivíduo e que seria muito difícil estabelecer uma educação para a felicidade que servisse para todos. Com certeza, cada indivíduo tem suas necessidades e capacidades próprias com determinados interesses, desejos, aversões, medos e esperanças. Mas, creio que uma educação para a felicidade deveria se concentrar não em ensinar a adquirir, conquistar e possuir determinadas condições e coisas relativas que podem, momentaneamente, proporcionar alegria e felicidade, mas sim, em trazer a compreensão de como criamos esses interesses, desejos, aversões, medos e esperanças, como nos fixamos em obter felicidade de algumas coisas e infelicidade de outras, como nos habituamos a um determinado tipo de percepção da realidade que nos aprisiona em uma forma de ser feliz.
Creio que para termos uma educação para a felicidade é preciso reconhecer a forma equivocada com que temos buscado esta felicidade. É necessário desenvolver uma investigação que nos mostre que dificilmente encontraremos uma felicidade duradoura ao condicioná-la a certas aquisições do mundo sejam elas materiais, emocionais ou intelectuais. Através desta investigação, talvez possamos começar a perceber que a felicidade não está nas condições que geram as experiências de sucesso na vida financeira e profissional, na vida amorosa e familiar, nas instituições, nos movimentos sociais e manifestações culturais. Isto porque estas condições, afinal, são impermanentes, passíveis de mudanças e completamente incertas para nos proporcionar uma felicidade duradoura. Ao mesmo tempo, poderíamos ver que nossa mente também muda constantemente e que aquilo que nos satisfazia ontem já não nos satisfaz hoje e que amanhã isso também irá mudar.
Uma educação para a felicidade deveria nos mostrar como somos o tempo todo influenciados por inúmeros fatores, na maioria das vezes de forma inconsciente, o que torna nossa busca de felicidade algo completamente instável e inseguro. E que, por isso, a busca de atrair ou rejeitar coisas para nossa vida não pode ser fonte de felicidade. Antes deveríamos compreender como e porque criamos estas necessidades e, desta forma, aprender a nos desfazer de nossas fixações para que encontremos uma estabilidade, um equilíbrio e felicidade que não seja dependente das coisas e condições.
Este deveria ser o foco principal da educação, pois ao desenvolvermos essa compreensão e sabedoria poderíamos fazer surgir um indivíduo verdadeiramente livre para exercer sua capacidade de escolha e criatividade. Tal educação deveria se concentrar em buscar formas de apresentar, desde a mais tenra idade até a idade adulta, os caminhos para uma felicidade incondicional.
Ao trazer o conhecimento convencional a escola deveria trazer também esta sabedoria. Capacitar o indivíduo a descobrir a natureza de suas experiências mentais, emocionais e corporais para saber lidar com elas de forma libertadora e, assim, ser verdadeiramente criativa e benéfica para si e para os outros.
Creio que, ao aprendermos a investigar a mente que procura uma suposta satisfação e vermos a ilusão e a futilidade da busca e fuga das coisas do mundo, desenvolvemos uma base interior onde podemos começar a descobrir um estado cada vez mais natural, são e feliz da mente.
Educar para desenvolver esta capacidade de investigação e se familiarizar com esta mente natural é fundamental para que o indivíduo possa manifestar plenamente suas potencialidades, assim como, deixar de ser apenas mais uma peça no jogo das muitas forças (em diversos níveis) que se alimentam da ignorância e do sofrimento no mundo.
Tal educação deveria ter como base não só conhecimentos intelectuais e teóricos mas, principalmente, conhecimentos práticos, utilizando métodos de treinamento da mente para a familiarização com a natureza da mente e o desenvolvimento de competências emocionais como concentração, plena atenção, compaixão, paciência, generosidade, receptividade, flexibilidade, entre outras que facilitassem a descoberta de uma felicidade pessoal incondicional e a convivência pacífica e criativa do indivíduo na sociedade, de forma a trazer benefício e felicidade para todos os seres.

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