segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma Visão Sustentável


por Alexandre Saioro


A palavra do momento é sustentabilidade. Se alguma empresa, empreendimento ou grupo social quiser ter um status politicamente correto é só colocar esta palavra mágica no seu discurso. Mas o que significa mesmo sustentabilidade?
Esta palavra tem sido comumente usada em relação ao nosso desenvolvimento econômico e social. Segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pelas Nações Unidas, desenvolvimento sustentável é aquele “capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”.
Esta definição gira em torno da visão de “suprir necessidades”. Mas nela há uma questão que precisa ficar mais clara para caminharmos para este tipo de desenvolvimento.
Que necessidades precisam ser supridas? Ou seja, que padrão de vida é sustentável?
Como todos sabemos, existem necessidades básicas como comida, remédios, roupas, moradia e um ambiente saudável que precisamos para vivermos dignamente. Mas, como vemos hoje, cada um tem seu “padrão” de viver dignamente o que faz com que alguns busquem viver num “alto padrão” e outros não sejam atendidos nem no mínimo do básico. Com certeza, não é esta situação que se quer sustentar. Portanto, creio que ao se falar em sustentabilidade temos que olhar, primeiramente, para uma mudança da atitude autocentrada que temos conduzido nossas vidas para uma atitude altruísta.
Recentemente Leonardo Boff escreveu um artigo criticando as empresas que têm utilizado o termo sustentabilidade como uma falsa propaganda de que estão contribuindo para um desenvolvimento sustentável. Segundo ele, “as empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade socio-ambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja ameaçada. Portanto, nada de mudanças de rumo, de relação diferente para com a natureza, nada de valores éticos e espirituais”.
Como podemos ver, parece que continuamos os mesmos.
A humanidade ao longo de sua história tem demonstrado uma incapacidade de sustentar suas civilizações. Quantos “impérios” já se ergueram e sucumbiram? Muito antes da atual crise ambiental a humanidade já sofreu muito com suas próprias ações no mundo devido a sua ignorância de não saber trazer e manter as condições de harmonia, felicidade e bem-estar. E porque isto acontece?
Vou me arriscar a dar uma resposta. Nossa incapacidade de sustentabilidade se deve a nossa incapacidade de encontrar satisfação. Se quisermos ter um desenvolvimento sustentável temos que olhar muito cuidadosamente para conceitos como satisfação e contentamento.
Nada se sustenta na insatisfação e o ser humano sempre viveu num estado de insatisfação crônica, onde o que ele conquista é suficiente apenas por um tempo. Muitos afirmam que é utópico querer se alcançar uma satisfação permanente e que sempre teremos insatisfações na vida. Na verdade, afirmam até que é esta insatisfação que nos impulsiona para uma “evolução”. No meu ver só se for a evolução do sofrimento, pois o que é esta insatisfação crônica senão a raiz da cobiça que nos cega das terríveis consequências de nossas ações?
Creio que a ideia de que estamos fadados a viver na insatisfação vem de uma visão distorcida de como funciona a mente humana.
Veja o que Dasho Karma Ura, mestre em Política, Filosofia e Economia pela Universidade de Oxford, Inglaterra escreveu em um artigo sobre esta questão: “Nossa compreensão de como a mente obtém felicidade afeta a nossa experiência com a mesma, ao influir nos meios que escolhemos para a sua busca. Em alguns ramos das ciências comportamentais, a mente é concebida como um aparato de entrada-saída, que responde apenas aos estímulos externos. Uma conseqüência deste modelo é que as sensações prazerosas e de felicidade são vistas como dependentes somente de estímulos externos. Felicidade é percebida como uma conseqüência direta dos prazeres sensoriais. Com tal excessiva ênfase nos estímulos externos como a fonte de felicidade, não é de se surpreender que os indivíduos sejam levados a acreditar que, ao serem materialistas, serão mais felizes”.
“Mas existe uma tradição que aponta um caminho oposto à busca da felicidade baseada em estímulos externos, e que mostra que sensações prazerosas serão geradas ao se bloquear a entrada dos estímulos sensoriais externos e calando-se o palavrório mental. Isso requer a prática regular de técnicas de meditação, através das quais o indivíduo experiencia o sujeito em si, em vez do sujeito experienciar os estímulos externos.
Ao se utilizar um método contemplativo, não há nada externo que possa se constituir num insumo para felicidade. Desde que seja praticada de forma disciplinada e regular, a meditação pode levar à mudanças na estrutura mental (nas redes neurais), fazendo com que a calma e o contentamento sejam traços perenes da personalidade. Em outras palavras, as faculdades mentais podem ser treinadas em direção à felicidade”.

(http://www.holos.org.br/artigos/167/fib-felicidade-interna-bruta)
Fica claro nas palavras de Dasho Karma Ura que antes (ou ao mesmo tempo) de pensarmos em soluções tecnológicas, administrativas ou políticas para um desenvolvimento sustentável, há uma necessidade emergente de capacitarmos as pessoas na descoberta deste tipo de contentamento e felicidades perenes.
Não vejo outra forma de construirmos uma sociedade ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa que não seja através da diminuição da proliferação de desejos autocentrados e da estimulação de uma motivação altruísta e compassiva em nossas relações sociais e ambientais, baseadas na descoberta de um contentamento perene.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até blog http://aartedoestresse.blogspot.com E-mail: alexsaioro@hotmail.com