sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Nossa mente, nosso mundo

por Alexandre Saioro

"Se uma pessoa deseja solucionar os problemas do mundo, é muito importante que essa pessoa comece consigo mesma, tentando solucionar e curar os problemas dentro da sua própria mente. Se tentamos resolver os problemas do mundo sem ter reduzido as tendências pessoais de apego e aversão na nossa mente, então, ao mesmo tempo em que vamos talvez conseguir solucionar alguns dos problemas, provavelmente agravaremos ou criaremos alguns outros.
E esse, infelizmente, foi o caso de muitos revolucionários na história humana, que reconheceram as injustiças sociais, econômicas e muitos outros tipos de problemas políticos e sociais. Mas, ocasionalmente, eles tentaram resolver esses problemas sem a compreensão necessária. Suas mentes estavam propensas a emoções, como ódio, orgulho, egoísmo e confusão. Mesmo muitos deles tendo tido sucessos e criado revoluções, estas acabaram por gerar outros problemas, possivelmente não diminuindo o sofrimento humano, tampouco reduzindo a destruição do meio ambiente.
Portanto, é muito importante não nos deixarmos cair no cinismo, ou apatia, ou desespero. Ao mesmo tempo, se desejamos trazer mudanças benéficas, positivas, para a humanidade, é muito importante começarmos conosco mesmos; é importante começarmos essas mudanças no nosso coração e na nossa mente.”
Alan Wallace
www.caminhodomeio.org/Espiritualidade/wallace
Ao buscar soluções para nossos problemas sociais e ambientais através de ações políticas, tecnológicas e educacionais, temos nos deparado com a falta de inteligência emocional das pessoas para as mudanças de comportamentos sociais necessários, principalmente daquelas que detém o poder de fomentar estas mudanças. Sistemas políticos, leis e novas tecnologias são facilmente mal usados e corrompidos quando mentes e corações estão envolvidos por emoções que não correspondem às suas aspirações. Mesmo naquelas pessoas que achamos ser bem intencionadas, vemos que elas agem e se relacionam, muitas vezes, dominadas por pensamentos e emoções inconscientes. Acham que estão se conduzindo com razão e clareza, mas não percebem as emoções que envolvem suas lógicas e tornam suas ações estreitas, equivocadas e até criminosas.
Toda violência e conflito que vemos no mundo são frutos destes impulsos reativos e de condicionamentos emocionais que ditam uma leitura equivocada do mundo. Ignorantes desta influência, buscamos a felicidade e as soluções para nossos problemas para vermos mais adiante que criamos novos problemas com elas. Fixados em emoções autocentradas, não compreendemos corretamente a realidade em que vivemos, criando certas crenças sobre nós mesmos e o mundo que realimentam estas emoções num círculo vicioso. Mas que realidade é esta que não compreendemos?
Vou citar dois aspectos básicos da realidade que temos muita dificuldade em lidar: a impermanência e a interdependência de todas as coisas. Entendemos intelectualmente e de forma parcial estes dois aspectos. E isto já é alguma coisa, mas não o suficiente. Sabemos teoricamente que todas as coisas mudam e que tudo existe dependente de certas influências e condições, mas não sabemos disso emocionalmente. Resistimos em assumir nossa responsabilidade social e ambiental e não aceitamos muitas mudanças ao longo da vida. Ao fazer isto, nos dissociamos da vida real através de uma percepção autocentrada que só sabe funcionar através do desejo de obter e afastar coisas para se sentir seguro diante das inevitáveis mudanças e influências.
Não é de se surpreender que uma sociedade que vive neste estado mental/emocional tenha seu progresso baseado numa cultura que alimenta a busca constante do prazer pessoal e não dá muita chance para se desenvolver valores que correspondam a nossa realidade interdependente como bondade, compaixão e generosidade. Nos percebemos como se fôssemos completamente independentes uns dos outros e pudéssemos e devêssemos fazer qualquer coisa para conquistar nossos interesses, apegos e prazeres efêmeros; nossos castelos de areia na beira da praia.
Creio que só temos chance de começar a sair desta mentalidade, se dermos a devida atenção às verdades da impermanência e interdependência em nossas vidas. Ao aprofundarmos nossas reflexões sobre estes dois conceitos, podemos começar a ver nosso mundo e a nós mesmos de outra forma. Uma forma mais saudável e sustentável.
Há séculos atrás nossa ciência e sociedade ignoravam os diversos níveis de relacionamentos interdependentes da natureza e hoje elas parecem estar profundamente preocupadas com isso, como podemos ver na crescente “ecologização” do mundo. Ao mesmo tempo, diversas tradições espirituais têm ensinado sobre estas relações em níveis ainda mais amplos que ainda não foram devidamente aceitos por nós, mas que, acredito, em breve serão reconhecidos como importantes fatores para o equilíbrio e a saúde do planeta. De minha parte, acredito que a degradação das condições ambientais no planeta está estreitamente relacionada à degradação das qualidades positivas de nossas mentes. E isso não só com relação à ética e à moralidade, mas, principalmente, com relação à influência da energia das emoções dos seres humanos no meio ambiente natural e social.
Certa vez li um ensinamento da Lama Budista Tsering Everest em que ela dizia: “A realidade de nossa mente produz o nosso próprio meio ambiente. O declínio de nosso meio ambiente é um declínio direto de nossa mente. Podemos olhar para isso com uma visão global. É nossa mente que nos faz experienciar nosso meio ambiente.” www.odsalling.org.br/ensinamentos/meio-ambiente
Será que é por isto que tantos sábios e mestres espirituais têm nos aconselhado a cultivar amor e compaixão por todos os seres e nos ensinado que tudo está interconectado e que, por isso, “só colhemos aquilo que plantamos”?
Acho que se aprofundarmos uma meditação sobre a impermanência e a interdependência em nossas vidas, poderemos ter muitas respostas sobre isto.

ALEXANDRE SAIORO ministra para grupos e empresas o Programa de Redução do Estresse - A Arte do Estresse - baseado em metodologias utilizadas na área de desenvolvimento humano e organizacional e em métodos de meditação e contemplação da tradição budista. Para saber mais sobre o Programa vá até blog http://aartedoestresse.blogspot.com E-mail: alexsaioro@hotmail.com

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